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Rock 2023

Tudo é tão descartável

por Duda 06/04/2025

Esses dias, o meu player de música acabou tocando “So Much (For) Stardust” do Fall Out Boy. É a faixa que leva o nome e fecha o último álbum que eles lançaram, lá em 2023. Isso me levou de volta pra aquela época e lembrei do hype que eu cultivei para o lançamento daquele disco. Os guris e eu estávamos na expectativa. Um single era melhor do que o outro. Pensávamos “eles estão de volta”. Ainda “o emo voltou”. E nem a capa esteticamente desagradável nos tinha sido um revés.

Os meus amigos e eu gostamos da banda há alguns anos. Por sermos jovens, não pegamos muito a cena emo nos anos 2000. E talvez por não conhecermos ou pela falta de interesse, deixamos passar aquela fase na década seguinte quando tentaram se reinventar. Mas criamos gosto pelo trabalho dos caras quando fomos atrás da cena em meados de 2019. A nostalgia de eras passadas, alguma hora, bate. “From Under The Cork Tree” é um clássico, mas “Infinity on High” tá no meu top cinco de discos favoritos da vida. E gosto tanto do Folie à Deux quanto do debut de 2003. Aquele parecia ser o momento de nós vivermos o que eramos muito jovens para termos vivido quase duas décadas antes.

Março de ‘23 havia sido mês difícil para mim, mas as coisas se resolveram na última semana. Além disso, o disco enfim havia saido no dia 24. E a gente escutou, cada um, no lançamento. Pareceu-me um trabalho sólido, até então. Um desses meus amigos ficou fissurado em “Heaven, Iowa”. Fora os singles, talvez tenha sido a que eu mais escutei também. Mas aí saiu a review do Fantano e eu deseretei legal. Em sua resenha, afirmava que as músicas do meio do disco (entre “Heaven” e a última) detonavam o álbum. O resultado foi um 2/10. Acabou que nunca mais iterei pelo disco. E uma hora, os singles pararam de tocar nos meus autoplays.

O “disco com o cachorro chapado na capa” não foi o único lançamento do comeback da cena emo naquela época. Outro ato que havia voltado pras guitarras foi o Paramore. A banda havia lançado “This Is Why”. Esse sim, o Fantano gostou. Se não me falha a memória, lembro dele ter afirmado que foi o melhor trabalho da banda. Não duvido que tenha sido. Mas esse, além dos singles, eu não escutei até hoje. Foram lançamentos que, pra mim, ficaram naquela época. Enquanto escrevo este parágrafo, lembrei que o My Chemical Romance havia se reunido. O último show foi, justamente, no final de março de ‘23.

O começo dos anos ‘20 pareceu ser uma retomada do gênero das guitarras. Apostava-se nos italianos do Måneskin como quem afirmava em 2003 que “os Libertines vão salvar o rock”. Aí chegou a Olívia Rodrigo com “good 4 u” e, num verdadeiro cenário pós-apocalíptico, eu agradecia por estar presenciando aquele momento de resurgência no mainstream do que era o estilo musical que eu mais gostava. Outros atos emergiam como potências do gênero, como o tal do Machine Gun Kelly. Mas esse daí eu nunca gostei mesmo. Talvez pudesse ser até considerado objetivamente ruim.

Foi naquele mês de março que alguém me enviou a seguinte mensagem: “Não sei se tu concorda comigo, mas eu acho o arctic [monkeys] o melhor rock da atualidade”. A primeira coisa que me passou pela cabeça foi “Defina atualidade”. Afinal, apesar de terem lançado “The Car” poucos meses antes, o último disco definitivo de rock deles foi o AM. Talvez tenha sido aquele o momento oportúnio pra se soltar uma afirmação daquelas, e não dez anos depois. A pessoa era agnóstica aos lançamentos seguintes da banda. Eu não a culpo. Realmente, o “Arctic” de 2013 foi o último grande ato de guitarras no mainstream. O próprio Damon Albarn, de Blur e Gorillaz, e o vocalista do The Hives soltaram essa mais tarde naquele mesmo ano. Independente dos três meio que concordarem, há controversias, mas não irei elaborá-las aqui.

Eu não vim aqui falar do “rock da atualidade” ou tampouco me lamentar sobre a “atual conjuntura” do gênero. Sinceramente, hoje, eu pouco me importo. Tem tanta coisa nova, legal e diferente pra se escutar atualmente. Mas foi só algo que me passou pela cabeça e me desbloqueou memórias de há não muito tempo atrás. Principalmente, do quão pouco as coisas parecem durar hoje e como isso se estende às produções culturais.

Acho que eu deveria dar uma chance pro disco do Paramore. E talvez uma nova para o seu contemporâneo do Fall Out Boy. Não diria que é tarde demais para eu aproveitá-los. Conheci o “Infinity on High” uns 12 ou 13 anos depois de seu lançamento e sua sonoridade me agrada até hoje. Um biênio é nada perto dessa década e meia. Pode parecer estranho pelo fato de eu realmente ter vivido o momento do lançamento destes discos. Quando eu, meus amigos próximos e distantes achavávamos tudo aquilo um máximo.

Falando nisso, o que ficou nos meus ouvidos naquele mês horroroso foi o primeiro álbum solo do Frank Iero. “Stomachaches” foi lançado em 2014. Tenho memórias com “weighted”, “stage 4” e “Guilt Tripping”. Conhecia ele já há alguns anos, mas talvez passar pelo que passei tenha me permitido aproveitá-lo da melhor forma.